São
poucas as mulheres que se arriscam a sair de casa sem pelo menos uma
cor nos lábios – ou levar um batom na bolsa, para casos de “emergência”.
Não por acaso, mesmo em tempos de crise, a indústria dos cosméticos
continua próspera. Bases e corretivos para as olheiras, blush e gloss
são usados todos os dias por milhões de consumidoras no mundo todo. E
não há novidade nisso, trata-se de uma prática milenar. No fundo,
prevalece a crença de que um rosto mais colorido é sinal de beleza e
aparência saudável – e, em última instância, nos tornará aceitas e bem
tratadas. O curioso é que essa percepção encontra respaldo científico.
Já há alguns anos, pesquisadores têm se dedicado a entender como a ação
dos cosméticos influi na percepção e no comportamento da maioria das
pessoas, provocando a impressão de que mulheres maquiadas com discrição e
sem exageros são mais competentes, seguras e emocionalmente estáveis.
E isso se deve, pelo menos em parte, aos cosméticos. Cremes e bases
corretivas, por exemplo, deixam a pele mais lisa, aumentam sua firmeza e
brilho e eliminam impurezas. Resultado: as pessoas parecem mais jovens
e, principalmente, mais saudáveis. Durante uma experiência na
Universidade de Aberdeen, na Escócia, vários rostos femininos foram
fotografados e, posteriormente, algumas imagens, com diferentes tipos de
pele, foram mostradas a um grupo de homens. Foi solicitado que
indicassem as fotos que, em sua opinião, correspondiam a mulheres com
pele mais sadia. Depois disso, veriam os rostos inteiros e poderiam
avaliar se de fato eram bonitos.
A experiência revelou que peles consideradas mais saudáveis eram
justamente das pessoas classificadas como mais atraentes. Também foi
observado que, quando uma mulher usa base, é vista como mais bonita e em
melhores condições de saúde. O pesquisador Robert Mulhern e seus
colegas da Universidade de Buckinghamshire, na Grã-Bretanha, pediram a
alguns homens que avaliassem a beleza do rosto de algumas mulheres, com
idade entre 31 e 38 anos. Antes da sessão de fotos, todas foram
submetidas a uma limpeza profunda da cútis. Para evitar distorções, as
imagens mostravam apenas o rosto de cada voluntária, e o penteado era
idêntico. De acordo com o caso, a maquiagem foi feita nos olhos, nos
lábios, na pele, em todo o rosto ou optou-se por não aplicar
absolutamente nada. Os homens e as mulheres que viam as fotos deveriam
dizer o quanto a pessoa fotografada parecia atraente, usando para isso
escalas de avaliação da beleza. Também lhes foi pedido que indicassem a
foto que consideravam mais fascinante dentre as cinco de cada modelo.
Como era de prever, as avaliações positivas foram feitas principalmente
quando a pintura tinha sido aplicada simultaneamente nos lábios, olhos e
pele. A maquiagem dos olhos tinha poder de atração mais forte, seguida
da pele e dos lábios. Mas a impressão de beleza era maior se apenas uma
área do rosto estivesse enfatizada.
Obviamente, o uso dos produtos cosméticos surgiu em uma época em que o
ser humano já tinha parcialmente se distanciado do rastro evolucionista
para agir segundo critérios culturais ou de livre escolha. Mas este
rompimento na escala evolutiva da nossa espécie é ainda suficientemente
próximo para nos deixar sempre sensíveis a esses indícios que outrora
eram essenciais na busca de um parceiro: saúde, juventude, simetria no
rosto e capacidade de inspirar confiança. Parece que os cosméticos, e
particularmente a maquiagem, ainda são capazes de suscitar as sensações
que no passado eram indispensáveis.